A expressão
"Pais da Igreja" foi aplicada aos santos homens de Deus que
sobressaíram em meio às dificuldades e perseguições impostas ao cristianismo.
Foram homens de caracteres bem talhados e claramente delineados, que não
tiveram o menor receio em se expor diante do perigo, mas decididamente
defenderam a fé cristã, tanto no falar como no escrever e no agir.
Não fizeram
caso algum de suas vidas, pois acharam que morrer por amor a Cristo era quase
nada, considerando o que Ele enfrentou e fez por nós. Foram homens abnegados
que se envolveram integralmente em favor da Igreja, alguns deles conviveram com
parte dos discípulos e apóstolos originais de Jesus Cristo.
O período
dos "Pais da Igreja" ou "Era Patrística" iniciou no final
do primeiro século (após o período apostólico) e se estendeu até o quarto
século da era cristã.
A história
desses homens ficou registrada, o tempo que permaneceram palmilhando nesse
mundo, foi mais do que suficiente pata torná-los, não apenas heróis da fé
cristã, mas inesquecíveis para a história do povo de Deus.
Ao findar o
primeiro século da era cristã, o momento era decisivo na história do
cristianismo, pois uma a uma das testemunhas que conviveram pessoalmente com
Cristo, que presenciaram seus milagres, que receberam os seus ensinamentos
foram desaparecendo.
Entre os
apóstolos vemos que Paulo e Pedro, os mais respeitados, foram martirizados na
cidade de Roma entre os anos 66-67 d.C., o apóstolo João foi a última
testemunha, resultando num personagem semilendário, devido o muito tempo que
permaneceu na Ásia Menor, tornando-se a última das testemunhas das origens do
cristianismo.
Na passagem
do primeiro para o segundo século, surgiu um novo período permeado por grande
obscuridade, a ausência de todos os apóstolos.
O cristianismo
correu o risco de se constituir em mais uma seita judaica, entre as muitas
outras existentes e que agitavam a Palestina, no entanto a pregação do
Evangelho produziu efeitos imediatos com o surgimento de novos líderes
cristãos.
Inácio
(67?- 110 d.C.)
Foi
discípulo do apóstolo João e bispo em Antioquia, razão de ser chamado de Inácio
de Antioquia. Não é possível dizer com exatidão, mas por volta do ano 110, o
prestigiado bispo de Antioquia, Inácio é sentenciado e condenado injustamente a
morte, sob alegação de ter recusado a adorar os deuses do Império Romano.
Era praxe
romana promover espetáculos usando vidas humanas que eram lançadas as feras na
arena. Enquanto Inácio era levado como prisioneiro da cidade de Antioquia para
Roma onde seria martirizado, ele escreveu sete cartas (cinco para as Igrejas da
Ásia Menor, à Igreja Romana e a Policarpo - bispo de Esmirna), as quais se
transformaram em verdadeiras riquezas ao cristianismo primitivo. Nestas cartas,
entre as questões estabelecidas reiterou os princípios da fraternidade, ds
hierarquia e da unidade do povo de Deus.
Trechos
contidos nas cartas:
"Evitem
as divisões como o princípio do mal. Sigam a seu bispo, como Jesus Cristo
seguiu ao Pai; e aos presbíteros, aos apóstolos e aos diáconos rendam consideração,
como mandamento de Deus."
"Eu
quero que todos os homens saibam que eu morri por Deus e por minha própria
vontade. Deixem-me ser entregue as bestas selvagens, porque através delas eu
posso alcançar a Deus. Eu sou o trigo de Deus e eu sou moído pelos dentes das
bestas selvagens, que elas tornem-se meu sepulcro e que não deixe nenhuma parte
do meu corpo para trás, de modo que, eu não seja, quando adormecer, pesado para
ninguém. Então serei verdadeiramente um discípulo de Jesus Cristo, quando o
mundo nem ao menos vai ver o meu corpo."
Policarpo
(69-155 d.C.)
Foi mais um
dos discípulos do apóstolo João, bispo de Esmirna. Por volta do ano 155, um
grupo de cristãos foi acusado, julgado e condenado pelos tribunais, porém, o
interesse maior do imperador Antonino, o Pio, era prender o bispo Policarpo.
Ao ser
preso foi levado à presença do governador juntamente com uma multidão pagã e
concedido a ele a opção de negar o nome do Senhor Jesus. Tentaram persuadi-lo
dizendo que olhasse para a sua idade avançada, ouve novas insistências para que
se curvasse diante do imperador e maldissesse a Cristo, isso seria suficiente
para a sua liberdade, mas Policarpo resolutamente reafirmou: "Faz 86 anos
que eu o sirvo, e nenhum mal me fez como hei de maldizer o meu Rei, que me
salvou?".
Ao final do
julgamento, o juiz o ameaçou dizendo que seria jogado às feras, depois o
ameaçou de ser queimado vivo. Diante da sentença, Policarpo adiantou que o fogo
que o juiz acendesse duraria alguns instantes e logo se apagaria, mas o fogo do
castigo eterno seria permanente.
Quando
viram a decisão irrevogável de Policarpo, o juiz determinou que ele fosse
queimado vivo, sendo que a multidão foi apressadamente preparar a fogueira.
Amarrado e já dentro da fogueira, em meio às chamas orou agradecendo a Deus por
tê-lo considerado digno de morrer como mártir em prol da causa cristã.
Justino
(100-166 d.C.)
Também
chamado de Justino o mártir, por causa de sua convicção inabalável da fé cristã
e disposição incansável de combater publicamente qualquer tipo de ataque ao
povo de Deus, isso fazia corajosamente e sem nenhum receio da censura por parte
do Império.
Justino
nasceu em Neápolis (antiga Siquém), provavelmente no mesmo período da morte do
apóstolo João. Foi exatamente no momento da conversão de Justino (por volta de
130 d.C.) que o cristianismo se encontrava em meio a uma conturbação provocada
pelos falsos profetas que pretendiam confundir o povo, o que trouxe
inicialmente a Justino certa dificuldade para distinguir o trigo do joio.
Justino tinha
uma escola de filosofia em Roma na qual ensinava que a verdadeira filosofia er
o cristianismo. Viajou por muitos lugares como um ensinador itinerante,
alcançou muitas almas para Cristo e tornou-se um dos filósofos que penetrou na
classe alta e levou muitas pessoas cultas e filósofos contemporâneos ao
batismo.
Foi
desafiado pelo cínico Crescêncio (filósofo pagão) a um debate, no qual Justino
com toda a intelectualidade que lhe era peculiar sobressaiu-se, não somente
isto, mas o cristianismo foi o grande vencedor em todos os sentidos.
Crescêncio
inconformado com a derrota vingou-se de Justino e mais seis de seus discípulos,
acusando-os e consequentemente conseguiu levá-los aos tribunais. Sempre havia
antes do martírio um julgamento na tentativa de convencer os acusados a
retratarem-se, no caso, negar a fé cristã. Justino se levantou conscientemente
diante do tribunal e atestou que após ter estudado todo tipo de doutrina
existente, tinha concluído que a cristã era a única e verdadeira, "afirmou
ter encontrado no cristianismo a única filosofia segura, que satisfez todos os
seus desejos", e, portanto, não pretendia abandoná-la.
Ao serem ameaçados
de morte demonstraram alegria em sofrer por amor a Cristo e que os matando lhes
fariam um grande favor. Assim sendo, foram açoitados e depois decapitados.
Irineu(
130-200 d.C.)
Nasceu na
Ásia Menor, provavelmente em Esmirna. Foi um discípulo fiel de Policarpo, a
quem considerava seu grande mestre. É chamado de Irineu de Lião (hoje é a
França) e chegou a ser presbítero desta Igreja, em substituição ao bispo Fotino
que fora martirizado.
Era um
autêntico pastor, nunca teve interesse pelas especulações filosóficas ou
descobertas teológicas, mas preocupou-se em dirigir o povo na sã doutrina e
refutar intensamente as heresias quem eram crescentes. Como pastor, teve o
censo na medida, possuía a riqueza da doutrina.
Ele deve
ter morrido na virada do segundo para o terceiro século. Jerônimo confere a ele
o título de mártir.
Tertuliano
(150-220 d.C.)
Também
chamado de Tertuliano de Cartago, devido ao seu nascimento em Cartago- África.
Deve ter se convertido ao cristianismo aos quarenta anos na cidade de Roma.
Logo depois de sua conversão, retornou a sua cidade de origem, onde passou a
escrever em defesa da fé cristã, principalmente contra os pagãos e hereges.
Era
advogado romano o que lhe dava relativa segurança para censurar o Império
Romano como intolerante e perseguidor. Ele declarou: "Vamos, bons
governadores, mais estimados ainda pelas multidões quando lhes imolais os cristãos,
atormentai-nos, torturai-nos, condenai-nos, esmagai-nos: vossa iniquidade é a
prova de nossa inocência. Todos os vossos requintes de nada servem, antes
redobram o atrativo de nosso povo, tornando-nos mais numerosos todos às vezes
por vós ceifados: o sangue dos cristãos é uma semente."
Era uma
atitude de bravura. Tertuliano se tornou o primeiro teólogo cristão que
escreveu em língua latina, o que lhe rendeu grande influência na teologia
ocidental.
Orígenes
(185-254 d.C.)
Conhecido
como Orígenes de Alexandria, veio a ser o mais destacado discípulo de Clemente
de Alexandria. Nasceu em um lar cristão, recebeu ótima educação e ainda muito
jovem chegou a impressionar seus pais pelas perguntas referentes às Escrituras.
Quando seu
pai foi preso sob a perseguição do Sétimo Severo, Orígenes ainda bem jovem quis
acompanhar o pai no cárcere, porém sua mãe o impediu escondendo as roupas.
Nesta época tinha dezessete anos e sendo privado de sair de casa, escreveu uma
carta ao pai encorajando-o a ser fiel até a morte.
O pai de
Orígenes (Leônidas) foi martirizado. Logo após a sua morte a família teve os
bens confiscados pelo governo, o que provocou muitas dificuldades na família. A
mãe ficou com sete filhos, sendo Orígenes o mais velho. Diante das dificuldades
econômicas, apareceu uma cristã rica de Alexandria, querendo socorrer a
família, mas ela era envolvida com os gnósticos, o que fez Orígenes rejeitar
todo tipo de ajuda, pois para ele a pureza de sua fé não abonaria tal
procedimento.
Orígenes
era uma pessoa de "gênio excepcional e chegou a ser famoso como mestre da
fé cristã". Dedicou-se inteiramente ao ensino em uma escola cristã,
causando grande repercussão no Império Romano, pois não somente os cristãos de
diversos lugares vinham ouvi-lo, como também pagãos, entre os mais conceituados
estava a mãe do imperador e governador da Arábia.
Não sabemos
a razão exata, mas tudo indica que uma dose de ciúme causou atrito entre
Orígenes e o bispo de Alexandria, forçando Orígenes a deixar Alexandria e ir
para Cesaréia onde prosseguiu ensinando por mais 20 anos. Foi considerado o
homem mais ilustre de sua época, escreveu inúmeras obras e produziu milhares de
cópias. Aproximadamente dois terços do Novo Testamento foram mencionados em
seus escritos.
Eusébio
(260- 340 d.C.)
Nasceu na
Palestina e chegou a ser bispo de Cesaréia no tempo do Imperador Constantino,
sobre o qual exerceu influência. Acima de qualquer conceito direcionado a Eusébio,
ele é lembrado como o “ Pai da História da Igreja ". Fez uma narrativa da
trajetória do povo de Deus, começando nos dias de Cristo até o Concílio de
Nicéia (325), momento em que Constantino tornou-se o Imperador do Oriente e do
Ocidente.
Discorrer
sobre história do povo de Deus sem incluir Eusébio " é comparado com
tentar descrever a história da Igreja Apostólica sem o livro de Atos dos
Apóstolos ". Entre as muitas obras de sua autoria, encontram-se obras
apologéticas, bíblicas e dogmáticas, embora seu ponto forte não ser a teologia,
mas a história.
Jerônimo
(340-420 d.C.)
Sofrônio Eusébio
Hierônimo nasceu próximo da fronteira da Itália com a Dalmácia (antiga
Iugoslávia). Ainda bem novo foi enviado para estudar em Milão e depois em Roma,
visando principalmente a gramática, a retórica e a filosofia, e ainda tornou-se
um erudito no hebraico, no grego e latim. Naquele tempo era raro encontrar
alguém com tamanha bagagem cultural, era um homem apaixonado pelo mundo da
erudição.
Nas grandes
obras de Jerônimo encontra-se a sua tradução da Bíblia em Latim (a conhecida
Vulgata, tradução do hebraico para o latim). Ele foi o primeiro pai da Igreja
latino a conhecer o hebraico. Sofreu uma forte oposição por ter mexido no texto
tradicional.
No ano 386
foi para Belém da Judéia onde fundou um mosteiro e aí permaneceu até o fim de
sua vida.
João Crisóstomo
(345-407 d.C.)
Nasceu na
grande cidade de Antioquia (terceira cidade do Império Romano). Pertencia a uma
família culta, o seu pai era um homem de posição social elevada.
João foi
educado pela mãe, pois aos vinte anos ficou viúva e dispensou um segundo
casamento para dedicar-se inteiramente ao filho. Aos 18 anos foi batizado e
logo em seguida tentou viver uma vida monástica. Viveu por alguns anos em uma
caverna fora de Antioquia, tendo a saúde prejudicada, voltou a Antioquia e
tornou-se diácono e depois presbítero.
Foi um
pregador eloquente, estadista e dedicado pregador da Bíblia. João Crisóstomo
recebeu o apelido de "boca dourada" ou "boca de ouro", pela
sua oratória inigualável e o ritmo incansável, pregava no tempo e a contra
tempo. Não era um teólogo de primeira grandeza, as mensagens pregadas eram
frequentemente práticas e devocionais, porém conquistava o coração do povo.
Deixou
Antioquia e foi para Constantinopla (397). De um lado transparecia causa de
promoção, por outro lado, seria a sua infelicidade. Diante do paganismo
existente em Constantinopla, ele acreditava que " qualquer homem inflamado
de zelo consegue reformar um povo". O seu trabalho inicial foi denunciar
os abusos praticados pelos clérigos e as injustiças sociais.
No afã de
coibir os abusos pregava ousadamente, esperando com isso promover as mudanças
desejadas, entretanto, surtiu efeito contrário, pois entrou em choque com a
corte, tendo como consequência o seu encaminhamento para o exílio, onde morreu.
Agostinho
de Hipona (354- 430 d.C )
Aurélio
Agostinho nasceu em Thagast (Argélia) sua mãe era católica cristã e seu pai era
pagão (converteu-se ao cristianismo na véspera de sua morte). Embora
pertencesse a uma família pobre, conseguiu estudar em Cartago - Roma, depois em
Milão ( capital do Império Romano em 384).
Agostinho
tornou-se um mestre grandemente apreciado por seus alunos. Mesmo galgando altas
posições como mestre brilhante de retórica, vivia numa inquietação constante
gerada pelas lutas interiores, pois até então era insatisfeito por não saber
com exatidão qual era o seu chamado na vida.
Finalmente
aos 32 aos, Agostinho experimentou a paz interior tão desejada, e com
propriedade exclamou: "Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova, tarde
te amei! Eis que estavas dentro de mim, e eu lá fora, a te procurar! Eu,
disforme, me atirava à beleza das formas que criaste. Estavas comigo, e eu não
estava em ti. Retinham-me longe de ti aquilo que nem existiria se não existisse
em ti. Tu me chamaste, gritaste por mim,
e venceste minha surdez. Brilhaste, e teu esplendor afugentou minha cegueira. Exalaste teu perfume,
respirei-o, e suspiro por ti. Eu te
saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e o desejo de tua paz me
inflama."
Foi por
volta do ano 388 que Agostinho retornou a África. Procurou saber quais eram as
cidades que não tinham bispos e evitou visitá-las com receio de ser forçado ao
ofício, mas em 391, quando passava por Hipona (norte da África) ele foi
reconhecido e condicionado ao sacerdócio, lá permaneceu até a sua morte. Viveu
quarenta anos em Hipona, era uma das mais influentes cidades africanas.
Agostinho
foi considerado por alguns como o maior teólogo da Igreja antiga, e considerado
por outros como o maior teólogo desde o apóstolo Paulo. É chamado de pai da
Igreja Ocidental. Seus pensamentos e doutrinas dominaram a Idade Média. Atuou
de forma irrepreensível em sua vocação teológica, deixando um legado de
aproximadamente 113 obras e 225 cartas.
Agostinho
morreu no terceiro mês do ano de 430, quando um exército bárbaro invadiu a
cidade de Hipona. Após a sua morte, o Ocidente começou a se
"agostianizar". Através de seus escritos ele está sempre presente, é
lido, imitado, conservando-se apreciável.
Referência:
Noll, Mark A. Momentos Decisivos na História do Cristianismo; Editora Cultura
Cristã
Hurlbut,Jess
Lyman; História da Igja Cristã; São Paulo: Editora Vida, 1995.
Ramos, Moysés Pastor; O Povo de Deus e Sua História; IBADEP (Instituto
Bíblico das Assembléias de Deus do Estado do Paraná)
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